terça-feira, 10 de junho de 2008

Estampas Eucalol e.....


Falei que ia contar sobre minha ligação com a Torre Eiffel, e vou contar. O meu desejo de conhecê-la, não era pelo seu tamanho e muito menos pela sua história. Nada contra revolução. Revolucionar é preciso, mas sou a favor, mais, dos que revolucionam pela pena e não pela espada, pela chacina.
Minha ligação com A Dama de Ferro, se deu na minha infância. Meu pai sempre viajou muito. Ia buscar mundos,assim nos enchendo de ausências. Num retorno de suas inúmeras viagens, ele trouxe um produto, não lembro o que era, só lembro que tinha uma estampa em que trazia o desenho de algo, que no primeiro momento achei muito estranho. A caixinha era delicada, parecia algo feito com muito esmero. Depois pude lembrar-me que tinha escrito, logo abaixo desse desenho, uma palavra “Paris” não sei se o produto era original, quero dizer, se vinha de Paris mesmo, mas mesmo que não tenha sido, com certeza foi muito caro para o meu pai. Aliás, qualquer coisa era muito caro pra gente. Crescemos com minha mãe dizendo, “Não, é muito caro” O picolé Gelatti era muito caro. Quando cresci comprei uns vinte de uma vez só e chupei-os sozinho, só de birra. Depois disso não consegui mais nem olhar pra ele.

Bom! Isso é outra história. Meu pai trouxe esse produto com a estampa da Torre e eu lhe perguntei o que era. Ele disse que era algo muito grande, alto e que estava fincado em um país muito distante, Ele falou o nome, mas eu estava tão ligado na estampa que não guardei.
Meu pai, em suas viagens, gostava sempre de trazer algo que não tinha na nossa cidade. Trabalhava feito um louco pra juntar dinheiro e tentar melhorar de vida, mas ao avistar um objeto diferente em uma vitrine, era tomado por uma febre, que hoje eu sei muito bem quais são os sintomas. Posso imaginá-lo cruzando a vitrine diversas vezes, olhando o preço do objetozinho diversas vezes, perguntando o preço inúmeras vezes até o vendedor achar que ele queria roubá-lo. Posso imaginar o velho calculando o aluguel, as compras, o colégio, a feira. Ainda posso ouvir os seus pensamentos nesses momentos e ainda, também posso sentir suas palavras entre os meus dentes, saltando em minha língua. Mas não adiantava. Ele já sabia. Era contaminado por um diabinho, que no final, sempre vencia. Meu pai tinha “bom gosto” quando seus olhos se demoravam um pouco mais sobre algo, já era. Ele Comprava.
Quando cheguei em Paris, não sai pra ver a torre. Tinha guardado outro dia pra ela. Sai para passear pela Champs-Elysées e ai ao sair do metrô dei de cara com o Arc de Triomphe e depois de tirar diversas fotos, como qualquer turista empolgado, olhei de lado e pela avenue Kleber eu avistei a pontinha da Torre. Silenciosamente segui pela avenue Kleber e depois de alguns minutos de caminhada dei de cara com a lânguida, sonhadora e famosa Dama de Ferro. Fiquei emocionado sim, não porque cresci vendo essa imagem ser diversas vezes gravada em minha mente, em TVs, cinemas, revistas, livros e tudo mais, mas porque ali eu encerrava um livro que comecei ler na minha infância. Eu na verdade não estava diante da torre Eiffel, nem estava em Paris, eu estava viajando pelos sonhos do meu pai, estávamos, nós dois flutuando na estampa mágica, que ele sabiamente escolheu sem o menor medo de um despejo ou do fantasma cinza da fome, que por muito tempo nos assombrou, zanzando pelos compartimentos de uma velha casa, num endereço apagado pelo tempo. Não é isso que se chama vida?A vida não está sob a pele disso que chamamos de vida? Pois é isso que quero, sempre. Números são só números.

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